Em entrevista concedida a um jornal de veiculação regional, o Prof. Dr. Antonio Carlos Rosário Vallinoto, docente permanente do PPGBAIP, alerta para a existência dos Controladores de Elite e Controladores de Viremia e sua relação com a infecção pelo HIV-1.
O vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) foi identificado como agente causador da síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) EM 1983, por induzir deficiência do sistema imunológico humano após infecção dos linfócitos T CD4+. Entretanto desde os primeiros anos de surgimento da AIDS tem sido percebido que um reduzido número de indivíduos portadores do HIV-1 desenvolve, de forma incomum, um curso brando da infecção. Esses pacientes são capazes de preservar altos níveis de linfócitos T CD4+ circulantes no sangue, por um longo período de tempo, mesmo na ausência de terapia antirretroviral, sendo denominados de Progressores de Longo Prazo (LTNPs-long-term nonprogressors).
Somente uma pequena fração, algo em torno de 1-2%, dos pacientes, se enquadra nos critérios para LTNPs, são eles: baixos níveis de carga viral (vírus circulante no sangue), contagem de células T CD4+ estáveis e ausência de sintomas relacionados a AIDS por um longo período de tempo (média de 10 anos) sem tratamento com antirretrovirais. Os pacientes LTNPs podem, ainda, ser divididos em duas categorias: Os Controladores de Elite (capazes de manter níveis indetectáveis de carga viral por longos períodos) e os Controladores de Viremia (que apresentam carga viral baixa, mas detectável nos exames laboratoriais).
Há, ainda, incerteza quanto aos fatores que influenciam e diferenciam o curso da infecção pelo HIV-1 entre os controladores de elite e os controladores de Viremia. Alguns estudos apontam para a influência de fatores imunogenéticos, como a como a presença dos genes HLA- B*57 e B*27 do Complexo Principal de Histocompatibilidade (CPH), que poderiam interferir na relação vírus-hospedeiro.
Os estudos mais recentes enfatizam o sistema imune com sendo um fator importante nessa diferenciação, quando revelam que os pacientes controladores de elite tendem a apresentar uma menor ativação do sistema imune quando comparados ao controladores de viremia. Pode parecer paradoxal, mas não quando entendemos que um dos fatores que a acelera a replicação do HIV e, consequentemente, a evolução para a AIDS, é exatamente, a ativação crônica de resposta imune inflamatória. A exata compreensão dos mecanismos biológicos que norteiam a não progressão para a AIDS entre os controladores de elite e de Viremia poderá trazer grandes avanços para o tratamento e possível cura da AIDS.
Contudo, a testagem para infeção seguida da introdução imediata de terapia nos casos positivos, como recentemente preconizados pelos órgãos da saúde, pode mascarar a ocorrências desses pacientes controladores de elite, que, naturalmente, não necessitam do uso de antirretrovirais. Uma situação para refletir.
Fonte: http://digital.diariodopara.com.br/pc/edicao/18092016/negocios